Mãos cheias de nada
Estás louco!
A loucura é o primeiro desígnio de um Deus Maior.
Ele abriu as mãos e viu nada, a pele de cor nenhuma baralhava-se com a imensidão de um arco-íris que aos olhos dos outros se apresentava nítido, assemelhando-se à feliz coincidência de uma troca de olhares prematuros. Não quis saber, nem quando o outro se riu alto, tão alto que as pedras da calçada estremeceram. O primeiro sacudiu as mãos mas o nada não se soltava, lavou-as no charco mas o nada não saía delas, depois mergulhou ele próprio no charco do passeio e ali ficou encostado a nada com uma sensação de coisíssima nenhuma a envolver-lhe as entranhas.
Estás imensamente louco!
Os loucos são os mais felizes.
Pedro ria ao ver o seu amigo embriagado em água lamacenta agarrado às suas duas mãos, ria de vergonha enquanto o tentava levantar. Solta-me! mas Pedro não queria ouvi-lo, uma sensação de desaparecimento de si inundara-lhe todas as formas que possuia para enfrentar aquela situação. Largou o amigo e caminhou com a alma em cacos rumo a não sei onde, nas mãos começava a arder-lhe um nada qualquer que não sabia de onde vinha. A doença do nada era pegajosa e com medo de cair sobre os charcos Pedro correu o mais que pode.
Este está louco! alguns gritavam, outros cochichavam entre si e ainda havia aqueles que se calavam, os piores são os que nada dizem e ficam a remoer uma espécie de nada dentro de si mesmos. Ele ali continuava agarrado às mãos cheias de nada, e sorria ao ver nada, e dançava ao ver nada, e era-se ali nada. O nada era a única certeza que tinha e dava-lhe o poder de se conseguir encher de tudo. Por isso quando lhe diziam estás louco! ele assentia, sorria e abraçava-se a si porque a sua loucura permitia-lhe ser tudo o que quisesse.
por: mar
3 comentários:
Tudo o que possa dizer é pouco.
Tens uma escrita tão peculiar que não tenho palavras para a descrever.
Resta-me uma: Parabéns!
Adorei...
Beijos!
a loucura do tudo fazer! invejo-a
e as mãos...essas estão recheadas, mesmo que aos olhos dos mortais, parece nada terem...
kiss ***
:)
essa lembra-me um fada da Saudosa Amália. Tinha uma frase que era mais ou menos assim...
"se os loucos não sentem nada, não é desgraça ser louco"
e a fronteira entre a sanidade e a loucura é tão pequena, digo eu!Onde está essa barreira não me perguntes!? Pois não sei onde fica!?
Bjos. com carinho
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