domingo, 28 de setembro de 2008
dizes, não vás.
depois abriste os olhos e olhaste as minhas mãos paradas no teu peito, respiraste a vida toda no segundo que se seguiu e eu controlei o meu corpo para não abraçar o teu em estilhaços no alcatrão. e da casa em frente ergue-se o alarido, um acidente parece motivo de algazarra, há ambulâncias com pressa abrir caminho, ao fundo da rua, por entre os carros, há pessoas à nossa volta mas nenhuma delas nos fala, eu pelo menos não ouço, tenho uma dor de cabeça maior que a poça de sangue que me envolve, vejo o teu corpo caído a uns metros de mim e não sinto as pernas, as pernas que ficaram no carro agora morto na valeta. tu olhas-me de baixo dos escombros e eu sei, meu amor, eu sei que falamos a mesma língua ainda que o silêncio nos impeça de caminhar para o mesmo lugar. tu tentas abrir a mão mas a árvore que te caiu em cima tirou-te os movimentos , matou-te os gestos e calado ainda pensas numa forma de escapares, escapares do minuto seguinte, o minutos que vestido de amarelo caminha a passo longo para te tirar dali, para erguer a árvore e levar-te. não vás e eu falo com os vidros a servir-me de carne na face, falo o teu nome por entre o pânico de alguns, sem pernas rastejo ao teu encontro mas outro minuto me detém, coloca-me numa maca e o resto que de nós se soube foi uma cadeira de rodas num funeral.
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