quarta-feira, 24 de setembro de 2008
às vezes mãe.
quantas vezes mãe, algures entre a cozinha e a sala, se teciam palavras que mordem ainda, mordem no pé, na perna, na mão, no corpo inteiro. sabes mãe, eu nunca me importei com as palavras que me dizias, antes mas dissesses em vez de me dares silêncios, porque sabes mãe, há silêncios que nos matam, devagar, devagar mãe e depois é tarde para se dizer alguma coisa mesmo que nada se diga. morrer sempre foi fácil contigo e entre cada palavra que dizes há uma bala a acertar-me o coração. quando não falamos não sabemos onde dói mas a dor é mais forte, enterramos o corpo das palavras mortas e à boca do corpo há feridas que se abrem, crónicas. crónicas mãe, crónicas. não digas que vai passar, não mintas. não me mintam mais, que tudo o que vivi já me chega para saber de cor tudo o que ainda me resta, sempre. ó mãe e tudo o que sempre quis foi aprender a abraçar-te, abraçar-te mãe e abraçar-te hoje parece a coisa mais difícil do mundo. baixo os olhos. nós somos dois rios mãe, dois rios separados por uma ponte, separados por uma ponte que nunca ninguém atravessou. eu choro mãe, eu choro um pouco do tanto que ainda me falta chorar e envelhecer custa-me mais por não conhecer o aconchego do teu colo.
2 comentários:
Vou passando por aqui e gosto da forma sentida como escreves!
fogo mar fizeste-me chorar.
como é que as tuas palavras às vezes podiam ser as minhas.
adorei como sublinhaste a palavra mãe, que é já de si forte como quem sabe que é.
um beijo.
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