quarta-feira, 29 de outubro de 2008
esperas a noite a cair sobre o horizonte ao longe, é outubro e as horas contam-se de trás para a frente como uma lenga lenga. apesar da velhice que te cai com os cabelos e com as peles penduradas debaixo dos braços, não te esqueces de chorar. ficas ali, quieta, a ver o sol apagar-se e os candeeiros da rua a acender em uníssono. do alto da tua casa prevês a morte do outono e a geada que cai com o orvalho embriaga-se no nevoeiro. um dia soubeste ser feliz. é de longe que te recordas, a face entreaberta em risos dados à socapa, o corpo a murchar devagar por debaixo das roupas e, sem dares conta, voltas. a casa está vazia e o corrimão das escadas continua partido, sobes os degraus devagar para ouvires o ranger da madeira do soalho, tão familiar. lá em cima esperam-te móveis cobertos por lençóis brancos, alguns objectos empacotados e o velho gira-discos. apagas a luz e deitaste na poltrona, fechas os olhos e deixas que te desça pelo corpo a tristeza de ser velha, velha como os trapos. da tua velhice consegues cheirar a derrota. podias ter sido tudo o que quisesses, eras bonita, mas escolheste o amor.
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