quinta-feira, 9 de outubro de 2008
a morte dá-me tesão
falo da morte como quem come um pão com manteiga ao pequeno almoço, falar da morte é enfrentá-la, olhar para o relógio ver que são já horas de acordar e deixar que a vontade de dormir se intrometa entre a carne, comprometa o cérebro e me mate, lentamente, dormir é um modo de morrer, ainda que ingénuo. falo da morte enquanto engulo algum ar, respirar é o meu passatempo favorito e morrer vem logo atrás. morro todos os dias, morro no café matinal, na galinha a correr desnorteada, na mão da avó que carrega a mochila do neto, nas botas que o tropa aperta bem antes de ir para o terreno, na cirene dos bombeiros a tocar, no pátio da escola a encher, em qualquer lugar, próprio ou impróprio, eu morro e morrer dá-me tesão. morrer é uma prova imcomprovada de me sentir viva e gosto de pentear os cabelos da morte, fazer-lhe algumas festas, dar-lhe outras perspectivas. a vida são tentativas de morte prematura, maneiras aceleradas de inclausurar algumas gotas de esperança. é bom morrer, ir morrendo, como quem atravessa uma estrada fora da passadeira, correr o risco e viver no limite. é como saltar à corda ou andar de patins, duas coisas para as quais nunca tive grande jeito.
2 comentários:
É bom saber ; )
a morte não nos cumprimenta, porque fica sem palavras de nos ver. Lembra-se sempre de nós a nascermos, a berrarmos no meio do betadine e de verde asséptico e de tesouras a cortar o cordão. e fica enternecida connosco e emocionada e não nos fala.
nós damos-lhe encontrões desnecessários e toques precários*
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