quarta-feira, 22 de outubro de 2008
penso: é outono.
ela parou à porta da casa, as escadas eram estreitas como o amor que lhe tinha, o tecto ameaçava ruir não tarda e as gotas da chuva entravam grossas por debaixo da porta. a rua estava parada como o trânsito no semáforo ao fundo, junto à esquina dois corpos abraçados debaixo de um guarda-chuva. ela não sabia para que lado da rua ficava o sítio de onde veio e parou, parou com os pés já molhados, sentou-se na soleira da porta com o cansaço nas mãos enrugadas pelo frio da tarde. tinha saudades dele e no peito enterravam-se agora alguns silêncios. ela tinha o mesmo nome que tu e chorava, chorava a fotografia cravada nas costas das mãos com o toque, o último toque num para sempre que não durou mais de dois dias. alguns corpos passeavam as suas desilusões rua acima e as lágrimas dela misturadas com a chuva formavam poças onde acidentalmente muitos molhavam os pés. o relógio da igreja insistia em afastar a tarde já gasta e algumas folhas caíam como mortas ao longo dos passeios. é outubro e dentro e fora dela há um outono. um cão vadio inspecionava os caixotes do lixo às portas da casa em frente, de dentro da casa chegavam-lhe algumas vozes azedas, fortes gritos de uma discussão quotidiana e ela chorava, chorava a tarde morta nos seus braços, a tarde morta em memórias servidas numa bandeja de sonhos violados. alguém lhe gastou o futuro.
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