domingo, 30 de novembro de 2008
amanhã não me lembrarei de ti, talvez hoje ainda, se tudo correr bem e a maré não me atrapalhar, eu consiga, devagar, inquietar-me, esperar que me enchas a boca, seca de gestos. podre. quem sabe depois de amanhã só sejas um ponto negro por cima de uma vogal, um traço em punho fechado, enrugado de letras, feito de palavras presas a um corpo desmembrado. então será o fim de um dia, ou de tantos dias colados uns nos outros, e pouco de ti sobrará no dia seguinte. então encherás os braços, cravados de espadas, com aconchegos de formas diversas e morrer-te-ão nas mãos os carinhos, verdades não ditas como o horizonte em queda livre em plena manhã. e ao menos adormeces? hoje de manhã vi-te chegar com os ombros curvados, pesado de memórias, vi-te sentar na soleira da porta como quem espera um amor atrasado e, depois de algum tempo, o fantasma que eras virou corpo, com carne e ossos e sentimentos.gosto de ti como gosto do pátio em dias de chuva, com charcos que me molham os pés e o frio a habitar as paredes.não morras antes de adormeceres.
1 comentários:
A chuva ganha brilho em ti.
Dás dimensão aos pequenos gestos do dia a dia.
O peso das memórias curva-nos os ombros, mas ainda sobra algo da manhã num ponto negro por cima da vogal...
Gostei.
Um beijo
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