terça-feira, 4 de novembro de 2008
a casa está vazia há muitas horas, conta-se o padrão do azulejo no reflexo dos teus olhos mortos, sabe-se da quieta luz do fim da tarde na tua íris. a porta entreaberta deixa a descoberto alguns medos, coisas que te acanham desde a infância e te maltratam as noites de insónias. a tristeza toma conta das paredes, entre as sombras dos passos que já foram dados e alguma monotonia, esta casa é um cemitério de memórias. do pânico no teu rosto tecem-se algumas suposições mas só a invalidez serve de resposta. o teu corpo está flácido, a pele branca deixa a descoberto todas as imperfeições, cicatrizes, marcas, nódoas. nunca gostaste de tons claros. a casa está muda e encobre a tua história trágica, nos dois andares não encontras nada, a não ser a solidão costumeira. as janelas voltadas para o mar não têm cortinas enquanto as restantes estão forradas de preto, os móveis estão cobertos por lençóis, só o relógio da sala permite um ou outro olhar mais atento. na quietude do corpo, morto à porta do quarto, respeitam-se alguns remorsos, nomes que se dizem como trovões em dias de tempestade e depois se esquecem com o sol do dia seguinte. ela morreu viúva jovem durante a manhã do dia, seguinte.
2 comentários:
como encontrei a porta aberta, entrei. e quando sair vou deixá-la aberta para voltar.
o texto: muito teu, muito bom
(só hoje vi a tua pm)
beijo grande
a quietude da morte pintada a espaços...
Beijo (nesse) Mar
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