quarta-feira, 5 de novembro de 2008
a cidade está fechada como a porta da casa, fechada como os punhos das tua mãos onde escondes alguns gestos, sentimentos soltos à margem de um qualquer rio. às tantas é do avesso que se estende a toalha na mesa da sala e os passos são para serem dados ao contrário. esperas à porta, o teu corpo encaixotado entre alguns livros, e cartas, e objectos, coisas que já não se usam. já não tens idade. quando ela chega atiras-lhe o passado à cara, entra-lhe como areia nos olhos, e dói-lhe, e chora, ela, que tu nunca te deixaste chorar. esperas que se acalme, ofereces-lhe um lenço, um cigarro, um casaco, ela não fuma, não tem frio, não precisa e foge de novo. gostavas de correr atrás dela mas não podes gastar a sola dos sapatos. à tarde bebes a tua bica na mesa junto à esquina, empurras alguma saudade garganta abaixo enquanto a noite não chega e imaginas os seus olhos postos nos teus, longe dali. hoje é quarta-feira e a semana está no meio, desapertas as tuas mãos e perdes os gestos, nunca soubeste manear ausências. o teu corpo sai com as mãos às costas, cruza a rua e vem sentar-se de novo à porta, fechada como a cidade.
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