segunda-feira, 3 de novembro de 2008
o teu corpo é um esqueleto onde 206 ossos dançam ao som de paul macCartney. às vezes julgo que o amor podia ser esta função simples, a verdade é que tu és uma função exponencial e eu não te consigo resolver. se fosses só isto, este corpo dançante numa sala rectangular com os móveis encostados à parede, se fosses só isto eu podia amar-te. quando te conheci ainda os dias eram maiores que as noites, nem isso era proporcional, gostei do teu jeito de andar como se corresses, do teu cabelo ondulado sempre volumoso, da tua face quadrangular e da tua boca, os teus lábios finos cheios de gloss para parecerem maiores, as palavras a suicidarem-se na ponta da língua de cada vez que tentavas formular uma frase, nunca tiveste jeito para grandes conversas, na tua boca as palavras nunca se sentiram seguras, falavas melhor com as mãos do que com a boca. confesso que ainda penso muito em ti, com mais frequência à tardinha quando me sento do saguão e vejo a noite cair sobre a cidade inteira, devagar, tu é que me habituaste a isto. pegaste-me na mão quando cheguei do trabalho, sentamo-nos no saguão com um livro entre as pernas cruzadas na tijoleira, anoiteceu devagar na poesia da minha boca inteira e nas lágrimas grossas que te caíam pela face. nesse dia soube que serias o grande amor da minha vida mas nunca to disse. agora que as noites contigo fazem parte do meu baú de memórias, faz todo o sentido dizer-te: eu amo-te. provavelmente será tarde, a esta hora és inquilina do caixão 121, na fila H, não tens caixa de correio e sei que no subsolo o papel não resiste à humidade por isso escrevo estas palavras na minha pele, para que sejam comidas contigo aí onde agora moras.
1 comentários:
Nunca é tarde para amar
Beijo (nesse) Mar
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